08 abr
TALVEZ SEATTLE (1994)
- 08 de abril de 2014, as 7h07
Escrevi esse texto em 08 de Abril de 1994, depois de assistir a reportagem no telejornal sobre a morte de Kurt Cobain, vocalista do NIRVANA.
O texto foi publicado em um suplemento literário do dia da poesia, no Jornal de Natal em 1996.
Eu tinha vinte anos, concedam-me a indulgencia literária que a idade exige, por favor.
Kurt levantou-se ou foi deitar com a serpente cinicamente
lhe fazendo caretas.
Ele estava OK.
Simplesmente afim de melodia ou não.
Filhinha
ele tinha uma
(ótimo!)
Esposa
ele tinha uma
(Grande!)
Mas uma banda ia faltando parte a parte pedaço a pedaço fedendo
infelizmente
como desodorante adolescente.
Impressões simples.
Talvez tivesse lavado o rosto.
Coisa também tão muito simples.
A serpente ainda lá.
Então um pico ou outro e a sensação
de pólvora.
Sentado na cama ou no chão ou de frente pro espelho ou com sua guitarra
ou com uma foto da filhinha
ou uma agulha e uma gota de sangue
ou com a imagem do amor na cabeça.
Sei lá…
Bill Burroughs ou outra coisa.
Nada de sentimental.
Só a batida do som seco da pólvora bala e metal
abrindo caminho.
Bang.
se é que o som é esse.
Sangue e chão gelado da cabeça partida
morrendo
junto com o gelo que sobe pelo ar teto
da bela pobre casa.
Talvez Seattle.
(Abril de 1994)